quinta-feira, 29 de abril de 2010

Resenha do Livro "Os Sertões" de Euclides da Cunha



"Os sertões" é inconstetavelmente uma obra ímpar que Euclides da Cunha nos apresenta numa linguagem rica e variada, mostrando o que aconteceu em Canudos, não apenas comom um fato histórico, mas como como um estudo crítico da sociedade brasileira.
O jovem Brasil república surgia em meio a conflitantes problemas sociais. As oligarquias Estaduais detinham todo o poder. A poulação, essencialmente camponesa, era obrigada a trabalhar exaustivamente nos cafezais. Os Marechais presidentes davam pouco, ou nenhum, a essa população pobre, que inconformados, organizavam revoltas. Uma delas foi "Guerra de Canudos".
Canudos era uma vila no interior do sertão baiano, com cerca de 5.200 casas postas como um labirinto. Os mais de 30 mil habitantes seguiam as orentações de Antonio Maciel, O Conselheiro. Ele pregava que o messias viria e iria destruir todos os homens maus. Aqueles flajelados esquecidos viam em Antonio um feixe de esperança que agarravam com todas as suas forças.
Mas a autonomia do arraial de Canudos começou a incomodar os poderosos e a igreja. Dizia-se nos jornais que Conselheiro pregava contra a república e que canudos era um movimento a favor de volta da monarquia. O governo, primeiro baiano depois federal, quatro canpanhas militares para subjulgar Canudos.
Euclides da cunha foi colaborador para o "Estado de São Paulo", que logo o mandou para Canudos junto com a quarta expedição militar, para ser correspondente de guerra. Com base nas pesquisas que realizou escreveu seu mais sublime livro, em 1902. O livro é enquadrado como pré-modernista, por fazer uma análise crítica da realidade social e cultural brasileira do começo do século xx.
Nessa época o Brasil e o mundo sofriam influencias de várias concepções cinetíficas, como o Determinismo ó historiador Taine, que dizia que para se estudar um povo era precisso conhecer o seu meio, sua origem e sua história. Baseado nessa concepção Euclides da Cunha divide seu livro, respectivamente em : A Terra,O Homem e A Luta.
Em " A Terra", primeira parte do livro, é feito um estudo científico do meio em que o sertanejo vive, mostrando em detalhes características do sertão nordestino.
Em "O Homem" tenta mostrr a origem do sertanejo, sua cultura, sus costumes, suas creenças, etc. Também é feito um estudo sobre Antonio Conselheiro, que, segundo o autor, agrega em torno de sí, pessoas alienadas e retardadas cultuuralmentee inferiores a "raça pura".
Quanto a essas últimas idéias, tem dificuldade de provar, na terceira parte do livro, "A Luta", pois esse povo sertanejo mostra-se bastante forte, equiparando-se ao exército "Civilizado. "A Luta" é uma das partes mais importantes do livro, onde vem mostrar o massacre feito pelo exército àqueles sertanejos, que lutaram até o fim, como ele nos conta:
"Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até o esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo,na presisão integral do termo, caiu no dia 5 (de outubro de 1897), ao entardecer, quando caíram seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas : um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam ruinosamente cinco mil soldados"
Canudos capitulou, mas seus acontecimentos sempre serão lembrados graçasa esse livor, mais que centenário. Como tal, algumas de suas idéias, para nós do séc. XXI, são ultrapassadas. E também, a leitura de tão rica obra se torna, às vezes, complicada e necessita ser auxiliada por no mínimo um dicinário. Mas quanto a todo o conteúdo de que fala gografia da região, da origem do sertanejo, e da história, é uma obra fantástica.
Euclides da Cunha cumpriu seu objetivo ao escrever "Os Sertões", denunciando a situação miserável do caboclo nordestino abandonado pelo governo, que ao invéz de resolver os problemas nada mais faz do que intervir com violência e crueldade.
Nunca nos esqueçamos de nossa origem, nem do massacre que sofreu canudos. Se não for pela importância histórica, que seja então em homenagem a um grande escritor.

Por : Stella Freire

Resenha de O triste fim de Policarpo Quaresma


O funcionário público Policarpo Quaresma, nacionalista e patriota extremado, é conhecido por todos como major Quaresma, no Arsenal de Guerra, onde exerce a função de subsecretário. Sem muitos amigos, vive isolado com sua irmã Dona Adelaide, mantendo os mesmos hábitos há trinta anos. Seu fanatismo patriótico se reflete nos autores nacionais de sua vasta biblioteca e no modo de ver o Brasil. Para ele, tudo do país é superior, chegando até mesmo a "amputar alguns quilômetros ao Nilo" apenas para destacar a grandiosidade do Amazonas. Por isso, em casa ou na repartição, é sempre incompreendido.

Esse patriotismo leva-o a valorizar o violão, instrumento marginalizado na época, visto como sinônimo de malandragem. Atribuindo-lhe valores nacionais, decide aprender a tocá-lo com o professor Ricardo Coração dos Outros. Em busca de modinhas do folclore brasileiro, para a festa do general Albernaz, seu vizinho, lê tudo sobre o assunto, descobrindo, com grande decepção, que um bom número de nossas tradições e canções vinha do estrangeiro. Sem desanimar, decide estudar algo tipicamente nacional: os costumes tupinambás. Alguns dias depois, o compadre, Vicente Coleoni, e a afilhada, Dona Olga, são recebidos no melhor estilo Tupinambá: com choros, berros e descabelamentos. Abandonando o violão, o major volta-se para o maracá e a inúbia, instrumentos indígenas tipicamente nacionais.

Ainda nessa esteira nacionalista, propõe, em documento enviado ao Congresso Nacional, a substituição do português pelo tupi-guarani, a verdadeira língua do Brasil. Por isso, torna-se objeto de ridicularizarão, escárnio e ironia. Um ofício em tupi, enviado ao Ministro da Guerra, por engano, levá-o à suspensão e como suas manias sugerem um claro desvio comportamental, é aposentado por invalidez, depois de passar alguns meses no hospício.

Após recuperar-se da insanidade, Quaresma deixa a casa de saúde e compra o Sossego, um sítio no interior do Rio de Janeiro; está decidido a trabalhar na terra. Com Adelaide e o preto Anastácio, muda-se para o campo. A idéia de tirar da fértil terra brasileira seu sustento e felicidade anima-o. Adquire vários instrumentos e livros sobre agricultura e logo aprende a manejar a enxada. Orgulhoso da terra brasileira que, de tão boa, dispensa adubos, recebe a visita de Ricardo Coração dos Outros e da afilhada Olga, que não vê todo o progresso no campo, alardeado pelo padrinho. Nota, sim, muita pobreza e desânimo naquela gente simples.

Depois de algum tempo, o projeto agrícola de Quaresma cai por terra, derrotado por três inimigos terríveis. Primeiro, o clientelismo hipócrita dos políticos. Como Policarpo não quis compactuar com uma fraude da política local, passa a ser multado indevidamente.O segundo, foi a deficiente estrutura agrária brasileira que lhe impede de vender uma boa safra, sem tomar prejuízo. O terceiro, foi a voracidade dos imbatíveis exércitos de saúvas, que, ferozmente, devoravam sua lavoura e reservas de milho e feijão. Desanimado, estende sua dor à pobre população rural, lamentando o abandono de terras improdutivas e a falta de solidariedade do governo, protetor dos grandes latifundiários do café. Para ele, era necessária uma nova administração.

A Revolta da Armada - insurreição dos marinheiros da esquadra contra o continuísmo florianista - faz com que Quaresma abandone a batalha campestre e, como bom patriota, siga para o Rio de Janeiro. Alistando-se na frente de combate em defesa do Marechal Floriano, torna-se comandante de um destacamento, onde estuda artilharia, balística, mecânica.

Durante a visita de Floriano Peixoto ao quartel, que já o conhecia do arsenal, Policarpo fica sabendo que o marechal havia lido seu "projeto agrícola" para a nação. Diante do entusiasmo e observações oníricas do comandante, o Presidente simplesmente responde: "Você Quaresma é um visionário".

Após quatro meses de revolta, a Armada ainda resiste bravamente. Diante da indiferença de Floriano para com seu "projeto", Quaresma questiona-se se vale a pena deixar o sossego de casa e se arriscar, ou até morrer nas trincheiras por esse homem. Mas continua lutando e acaba ferido. Enquanto isso, sozinha, a irmã Adelaide pouco pode fazer pelo sítio do Sossego, que já demonstra sinais de completo abandono. Em uma carta à Adelaide, descreve-lhe as batalhas e fala de seu ferimento. Contudo, Quaresma se restabelece e, ao fim da revolta, que dura sete meses, é designado carcereiro da Ilha das Enxadas, prisão dos marinheiros insurgentes.

Uma madrugada é visitado por um emissário do governo que, aleatoriamente, escolhe doze prisioneiros que são levados pela escolta para fuzilamento. Indignado, escreve a Floriano, denunciando esse tipo de atrocidade cometida pelo governo. Acaba sendo preso como traidor e conduzido à Ilha das Cobras. Apesar de tanto empenho e fidelidade, Quaresma é condenado à morte. Preocupado com sua situação, Ricardo busca auxílio nas repartições e com amigos do próprio Quaresma, que nada fazem, pois temem por seus empregos. Mesmo contrariando a vontade e ambição do marido, sua afilhada, Olga, tenta ajudá-lo, buscando o apoio de Floriano, mas nada consegue. A morte será o triste fim de Policarpo Quaresma.


Por Ludimilla Soares

Resenha de Os Sertões

Este livro é dividido em três partes: A Terra, O Homem e A Luta. A Terra é uma descrição detalhada feita pelo cientista Euclides da Cunha, mostrando todas as características do lugar, o clima, as secas, a terra, enfim. O Homem é uma descrição feita pelo sociólogo e antropólogo Euclides da Cunha, que mostra o habitante do lugar, sua relação com o meio, sua gênese etnológica, seu comportamento, crença e costume; mas depois se fixa na figura de Antônio Conselheiro, o líder de Canudos. Apresenta se caráter, seu passado e relatos de como era a vida e os costumes de Canudos, como relatados por visitantes e habitantes capturados.
Estas duas partes são essencialmente descritivas, pois na verdade "armam o palco" e "introduzem os personagens" para a verdadeira história, a Guerra de Canudos, relatada na terceira parte, A Luta. A Luta é uma descrição feita pelo jornalista e ser humano Euclides da Cunha, relatando as quatro expedições a Canudos, criando o retrato real só possível pela testemunha ocular da fome, da peste, da miséria, da violência e da insanidade da guerra. Retratando minuciosamente movimento de tropas, o autor constantemente se prende à individualidade das ações e mostra casos isolados marcantes que demonstram bem o absurdo de um massacre que começou por um motivo tolo - Antônio Conselheiro reclamando um estoque de madeira não entregue - escalou para um conflito onde havia paranóia nacional pois suspeitava-se que os "monarquistas" de Canudos, liderados pelo "famigerado e bárbaro Bom Jesus Conselheiro" tinham apoio externo. No final, foi apenas um massacre violento onde estavam todos errados e o lado mais fraco resistiu até o fim com seus derradeiros defensores - um velho, dois adultos e uma criança
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Por Kethily Vanessa

Curiosidades da Literatura

VOCÊ SABIA QUE...


- Casimiro de Abreu, notável poeta brasileiro, é considerado “O Poeta do Amor e da Saudade”.

- A Academia Brasileira de Letras, instituição literária, foi fundada em 1896.

- Casimiro de Abreu, é o patrono da cadeira no. 6 da Academia Brasileira de Letras.

- A Academia Paulista de Letras, fundada em 27 de Novembro de 1909, tem uma majestosa sede no largo do Arouche no centro de São Paulo.

- José de Alencar, escritor Brasileiro, nasceu no interior do Ceará na cidade de Macejana, em 01 de Maio de 1829 e faleceu no Rio de janeiro em 12 de Dezembro de 1877.

- Jorge Amado é o autor Brasileiro com maior número livros vendidos tanto no Brasil quanto exterior.

- Jorge Amado tinha apenas 19 de idade quando escreveu seu primeiro romance “O País do Carnaval”, em 1932.

- O romance, “Amar, Verbo Intransitivo”, escrito por Mário de Andrade foi para o cinema com o título de “Lição de Amor”, filme este dirigido por Eduardo Escoreu.

- Oswald de Andrade, poeta romancista e dramaturgo paulista, juntamente com Mário de Andrade, organizaram “A semana de Arte Moderna” de 1922.

- Manuel Bandeira um dos maiores expoentes da poesia modernista no Brasil é também conhecida por suas excelentes traduções das obras de: Shakespeare, Brecht e Schiller.

- Olavo Bilac considerado o principal representando do parnasianismo na poesia Brasileira recebeu ainda o título de “O Príncipe dos Poetas Brasileiros”.

- O poema dramático “Morte e Vida Severina”, de autoria de João Cabral de Melo Neto, é um dos textos teatrais mais montados no país desde sua estréia em 1965.

- Antonio Castro Alves, poeta baiano, autor de Navio Negreiro e Vozes da África, que pela intensidade com que combateu a escravatura acabou recebendo o título “Cantor dos Escravos”.

- A poesia de Antonio Castro Alves ganhou grande popularidade por tratar de temas fundamentais do final do século XIX, como a escravidão e os anseios republicanos.

- “O Cortiço”, obra prima do escritor naturalista Aluízio de Azevedo é também um dos livros mais reverenciados da literatura Brasileira.

- Desde a sua primeira publicação em 1902, “Os Sertões” obra mais importante de Euclides da Cunha, é considerado um livro básico para a compreensão do país.

- Euclides da Cunha foi vítima de um crime passional, envolvendo-se numa troca de tiros com Dilermando de Assis, amante de sua esposa.
Cerca de um ano após o incidente, seu filho também veio a falecer na tentativa de vingar a morte do pai, em outra troca de tiros com Dilermando de Assis.

- O romance “Hilda Furacão”, escrito em 1991 por Roberto Drummond, foi transformado em uma série de televisão em 1998.

- O romance “Agosto”, obra do romancista mineiro Rubem Fonseca, foi transformado em minissérie de televisão, com Vera Fisher e José Mayer nos papéis principais.

- O filme “O que é isso, Companheiro”, baseado no livro de memórias de Fernando Gabeira, concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 1998.

- Os versos “Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá...”, são de autoria de Gonçalves Dias, considerados por muitos, o poeta nacional do Brasil.




- Grande Sertão: Veredas, romance lírico e épico sobre o sertão, é considerado a obra prima de Guimarães Rosa.

- “O Guarani”, obra de José de Alencar, conta à história do amor platônico entre o índio Peri e a bela Ceci, filha de um rico proprietário de terras.

- Gianfrancesco Guarnieri, grande nome na dramaturgia Brasileira, nasceu na Itália no ano de 1934.

- João Guimarães Rosa, romancista e novelista mineiro, foi vítima de uma estranha premonição. Eleito membro da Academia Brasileira de Letras em 1963 acreditava que morreria quando tomasse posse. Por este motivo adiou o quanto pôde a cerimônia. Quando finalmente ela ocorreu, o escritor veio a falecer três depois.

- Gregório de Matos, falecido em 1696, um dos mais irreverentes poetas satíricos Brasileiros, conhecido como “Boca do Inferno”, foi o primeiro autor nacional a utilizar um estilo ousado e informal repleto de gírias e expressões nativas.


- Mário Palmério, romancista cuja obra focaliza a cultura dos habitantes mineiros, é o autor do romance “Vila dos Confins” que foi bem recebido pela crítica e pelo público.

Triste fim de Policarpo Quaresma

Policarpo é funcionário do arsenal e guerra possui uma vida regular e pacata. Tem uma grande paixão que é a leitura de obras que valorizam temas nacionais em sua biblioteca havia unicamente obras nacionais ou
tidos como tais: Bento Teixeira ( Prosopopéia), Gregório de Matos, Jose de Alencar, Gonçalves Dias. O nacionalismo de Policarpo se revela pelo seu interesse por obras inerentes ao Brasil, indo dos mais antigos como cronistas e historiadores passando pelos mais recentes. Se dá muito bem com os pobres e também com a elite sem ser hipócrita. Policarpo é nacionalista apaixonado e tudo de ruim que existe em nosso país não mais existiriam,m se todos imbuíssem dos méritos de nossa terra, riqueza e encantos. Acreditava fielmente que todos os seres humanos eram iguais perante a lei, mas isso acabou por lhe trazer incompreensão alheia, prejuízos, mesmo assim praticou tudo aquilo que acreditava. Detestava as aparências e indefinições. Aprendeu a língua dos índios, a tocar violão que era uma arte difamada com Ricardo Coração dos Outros que era um grande boêmio, malandro e trapaceiro, aprendeu também a cantar modas, a plantar e se engajou na luta contra os golpistas da Marinha e morreu por suas ingênuas convicções. Foi preso, internado. Apresentava um suposto desequilíbrio mental que era clinico. Ele leva muito a serio o mito nacionalista o que chegou a levá-lo contra o projeto das elites e criou embaraços. Podemos colocar a obra com uma ironia contra nossa hipocrisia e nossa ociosidade culposa. Em relação aos personagens temos os que demonstram insatisfação o próprio Policarpo., Olga, Ricardo Coração dos Outros e aqueles que só se preocupam com os próprios problemas como Genelício o famoso puxa saco, Abernaz, o general que desejava casar as filhas, ale desses há outros que o compõe a obra de Lima Barreto. No estão alguma coisas de Dostoievski, Machado de Assis, Jose de Alencar e a poesia de Gonçalves Dias. Há também no livro a idéia de que a elite brasileira se degradou por dar apoio a cultura européia, uma das causas de nosso atraso como um todo e também um pragmatismo ingênuo que acabou com os sonhos e a vida de Policarpo Quaresma.

Por: Tatiana de Sousa

Resenha de Clara dos Anjos

O romance passa-se no subúrbio carioca e Lima Barreto descreve o ambiente suburbano com riqueza de detalhes, como os vários tipos de casas, casinhas, casebres, barracões, choças e a vida das pessoas que ali vivem.
Clara é uma mulata pobre, que vive no subúrbio carioca com seus pais, Joaquim e Engrácia, mulher sedentária e caseira.
Joaquim era carteiro, gostava de violão e de modinhas. Ele mesmo tocava flauta, e também compunha valsas, tangos e acompanhamentos de modinhas. Além da música, a outra diversão do pai de Clara era passar as tardes de domingo jogando solo com seus dois amigos: o compadre Marramaque e o português Eduardo Lafões, um guarda de obras públicas.
Poeta modesto, semiparalisado, Marramaque freqüentara uma pequena roda de boêmios e literatos e dizia ter conhecido Paula Nei e ser amigo pessoal de Luís Murat.
Lima Barreto denuncia, na figura de Marramaque, a influência das rodas literárias, grupos fechados que abundam no Brasil; a cultura da oralidade, dos que aprendem muita coisa de ouvido e, de ouvido, falava de muitas delas, tendo um cultura superficial, de verniz; e o azedume dos que não conseguem brilhar nas rodas de gente fina.
Clara era a segunda filha do casal, o único filho sobrevivente…os demais…haviam morrido. Tinha dezessete anos, era ingênua e fora criada com muito desvelo, recato e carinho; e, a não ser com a mãe ou pai, só saía com Dona Margarida, uma viúva muito séria, que morava nas vizinhanças e ensinava a Clara bordados e costuras.
O autor reitera sempre a personalidade frágil da moça – sua alma amolecida, capaz de render-se às lábias de um qualquer perverso, mais ou menos ousado, farsante e ignorante, que tivesse a animá-lo o conceito que os bordelengos fazem das raparigas de sua cor – como resultado de sua educação reclusa e temperada pelas modinhas.
Essa natureza elementar de Clara se traduzia na ausência de ambição em melhorar seu modo de vida ou condição social por meio do trabalho ou do estudo.
A descrição de Clara reforça os malefícios da formação machista, superprotetora, repressiva e limitadora reservada às mulheres na nossa sociedade.
Por intermédio de Lafões, o carteiro Joaquim passa a receber em casa o pretendente de Clara, Cassi Jones de Azevedo, que pertencia a uma posição social melhor.
O padrinho Marramaque, que já lhe conhecia a fama, tenta afastá-lo de Clara quando percebe seu interesse. Na festa de aniversário da afilhada, provoca Cassi e deixa claro que ele não é bem-vindo ali e que seria melhor que se retirasse. Cassi vinga-se de modo violento: junta-se a um capanga e ambos assassinam Marramaque. Clara, que já suspeitava das ameaças do rapaz ao padrinho, passa a temê-lo, mas ele consegue seduzi-la, principalmente ao confessar seu crime, dizendo que matou por amor a ela.
Malandro e perigoso, Cassi já havia se envolvido em problemas com a justiça antes, mas sempre fora acobertado pela sua família, especialmente sua mãe, que não queria que fosse preso. Assim, conseguia subornar a polícia e continuar impune, mesmo depois de ter levado a mãe de uma de suas vítimas ao suicídio e da perseguição da imprensa.
O exagero narrativo de Lima Barreto torna-se patente ao descrever a figura do sedutor. Branco, sardento e de cabelos claros, é a antítese de Clara.
Clara engravida e Cassi Jones desaparece. Convencida pela vizinha, dona Margarida, que procurara na tentativa de conseguir um empréstimo e fazer um aborto, ela confessa o que está acontecendo à sua mãe. É levada a procurar a família de Cassi e pedir reparação do dano. A mãe do rapaz humilha Clara, mostrando-se profundamente ofendida porque uma negra quer se casar com seu filho. Clara agora é que tinha a noção exata da sua situação na sociedade. Fora preciso ser ofendida irremediavelmente nos seus melindres de solteira, ouvir os desaforos da mãe do seu algoz, para se convencer de que ela não era uma moça como as outras; era muito menos no conceito de todos.O autor representa, na figura de Clara e no seu drama, a condição social da mulher, pobre e negra, geração após geração. .
E, na cena final, ao relatar o que se passara na casa da família de Cassi Jones para a sua mãe, conclui, em desespero, como se falasse em nome dela, da mãe e de todas as mulheres em iguais condições: — Nós não somos nada nesta vida.

por Cecylia Lintz